terça-feira, 19 de abril de 2011

PEDINTES

    

Vago nas ruas da vida
de forma espreita
Mirando olhos
em discreta atenção

Recolho despojos
Na vassoura da mente
Mas também levo faces
De brilhos néon

Galerias antigas
Com seus segredos
Guardam criaturas
 esquecidas do mundo

Um tipo de lepra
sentada num canto
Aguardam atenção com
 um prato sem fundo

Rasgadas no tempo
Da infância recente ao crescer de repente
Não reparam no futuro inexistente
Que com indiferença os vem acudir

                                                Renato l. Armani

terça-feira, 12 de abril de 2011

O PODER



Todo o brilho que sentimos
nas gotas da saudade
suaviza o peito opaco ungido
no mar de nossas batalhas.

Servimos ao mesmo deus
somente na trégua das intenções
vivendo de forma dispersa
e incerta de decisões.

Qualquer um bate no peito e grita;
a tua inércia há de vingar
olhando aos lados ouvimos
os surdos em coro brindar.

A sombra com sua miséria
que na noite é artificial
faz de todo seu ponto norte orgulhoso
no palco serem somente iguais.

                                             Renato l. Armani


segunda-feira, 4 de abril de 2011

INICIAÇÂO

 E então...
 calaram-se as crianças
Atentas, mas não viram a dança
Que os impregnava ao redor

A chaga ainda fechada
Guardava manchas mascaradas
Esperando a hora errada
Para brincar em si bemol

A vida passa as pressas
Não tem tempo à explicação
Como funcionam os brinquedos
Que tocam o coração

Momentos de prece em sono profundo
Fazendo dos momentos, monumentos perdidos
Meu monólogo inaudível
Fica perdido no tempo, no vento assumidos.


                                Renato L. Armani

TORMENTO

              

O punhal que carrego comigo
Sempre soube brilhar
Nas sementes da vida
E nos instantes da vida vulgar

Não brinco com tempestades
Mas acaricio o meigo rio
Que sabiamente sabe se desviar
Das pedras que o fazem desenhar

Contemplo com devoção
A loucura na emoção
O sem fim do espaço
Em um rodeio de compasso

A tormenta cessa em mim
As asas abraçam meu corpo
O final do novo começo
 pode ser o começo do fim
sem ter fim de ter medo
sem ter fim do medo de mim


                                     Renato l. Armani.

INCERTEZA



Em cada lápide um sonho, uma poesia.                                                    
Uma música preferida.
Cada pedra um caminho
Uma história, uma vida
Um outro ninho.

Em cada ninho uma imagem
Um desejo uma passagem
Um sorriso, um segredo no passado
Sugado pelo tempo retornando
Ao ventre vespertino.

Em cada imagem um repouso
Concebido pelo zelo natural
Rendido pelo curso definido.
Neles jazem o tudo e o nada
O certo e o errado, o se eu tivesse...
O talvez...

                             Renato Armani

LIMITES



EIS TU DE NOVO, ESCURIDÃO

FONTE NEGRA DE INSPIRAÇÕES E

ACENDEDORA DE LÂMPARINAS

BAILARINA DO VENTO,

QUE POR VEZES TE ACOMPANHA NA

NEUTRA COR DA MÃO INDICIADORA QUE

MUDA O SABOR DOS DESTINOS,

CONSUMINDO COM O BRILHO DO DIA,

DANDO LUGAR DA NOITE MATUTINA.

LONGA NOITE ACOMPANHA QUEM DA

MANHÃ FOR VESPERTINO,

PEREGRINO DAS PAREDES, ALEGORIA DO DESIGNIO.

A COR DO TEU OLHAR NÃO ESCONDE O TEU

SILÊNCIO... NÃO SABE SE DA CORAGEM TEM O MEDO

 OU DA SOMBRA DO DESTINO.

                                                       RENATO ARMANI

AMAR


Quase  jurei
Que não amaria de novo
Mas como posso eu
Um simples plebeu
Controlar algo tão majestoso

São sentimentos imensuráveis
Raízes profundas espalhadas no peito
Não foge nenhum detalhe aos olhos
Tudo é bonito
Tudo é perfeito

Se me perguntares se gosto de ti ?
Responderei que não.
Pois gostar não é eterno
Prefiro dizer-te amo-te muito
Prefiro dizer-te pra sempre te quero                                                                                         

Renato L. Armani


SILÊNCIO




As vezes o silêncio ecoa
Como frases indefinidas
Ao contrário de gargantas coloridas
Que letra a letra agradam a quem escuta.

O silêncio no silêncio é sombrio
E grita cada vez mais
Como uma concha que aparece à beira do mar
Qual as ondas decidem onde ela há de ficar

No silêncio se passa tudo
Presente,passado e futuro
E exatamente nesta ordem
Em um ritmo absurdo
Uma tempestade volta a ameaçar

Ameaças que aumentam as ondas,
As mesmas ondas e  as   chances
Da concha na areia sumir
Ou por fim ,ao mar retornar.

                                               Renato Armani

COISAS DA VIDA

E cá estou novamente
fugindo dos fantasmas que persigo
Mais uma longa noite
Mais um dia infinito

Alimento a alegria farsante
restaurada em pilares ruídos
reforçando a submissão
de algo que foi  ferido

Mantenho as asas abertas
Para evitar  o deslize
Porque quanto mais alto se voa
Mais longe fica a superfície

Não espero que seja algo esperado
Não quero alcançar algo intocável
Não penso em fundir a vida real
Com algo inafiançável

São pensamentos que eu não entendo
São surpresas para as quais não estou preparado
Talvez seja melhor manter-se no vôo
e sonhar com um horizonte encantado


                                                       Renato Armani                                                                          



RESTOS


Restam apenas algumas cores
Agora já transparentes
Do que foi um dia
Um arco íris fluorescente

Dentro havia
Dois pulsantes coerentes
Porém quebradas as correntes
Alguém não quisera que fosse além

Restam os vestígios de algo feliz
Que o tempo tentando apagar faz nascer
Alguma coisa que faz sofrer
Que do dia a dia me faz  desistir

Remanescem também lapsos
De algo que foi melindroso
De um período aparente eterno e brioso
E no entanto até os lapsos começam a sumir

Pena não existir algo
Para fazer-nos ser frio
Para que quando viessem lembranças
Nos fizessem acreditar,isso não existiu


                             Renato L. Armani
                             

LIVRO DA VIDA



Fale  qualquer coisa
Um pouco do tempo
Um pouco da vida
De um ponto do espaço
De  frases perdidas

Fale do sol
Fale do preso
Fale dos sonhos
E dos devaneios

Não invente,
Só fale a verdade
Não fique escondido
expondo vaidades

Brinque com as flores
Brinque com o vento
Mas não brinque com o tempo
Que é implacável.

Pois em algum dia ele  te acolherá
Te envolvendo na luz tecida por ti
Fazendo o universo tornar-se pequeno
E o teu grande planeta no nada sumir

Não espere o escuro
Não traga saudades
Não brigue com o tempo
Ele é improrrogável.                        

 Renato L.Armani

A PRAÇA


Nesta praça
Há alguns invernos atrás
No banco de branco paz,
Morreu alguém,
Alguém que era ninguém,
Apenas morreu...

Foi de frio...
Ou de falta de calor
Calor humano
Por aquele pedaço de pano
Que jaz dentro do armário ha vários anos
Ninguém lembrava mais.

A noticia foi pequena
A importância também
Que no entanto,as pessoas
Ali sentam-se e sem espanto,
Alimentam os pombos
Para se sentirem Santos.
Enquanto que no tempo a vida se esvai...

Ah  se soubessem que ali foi o velório
Que teve como envoltório
Apenas arvores ao seu redor ?
Se soubessem,ali não sentariam
Por ali nem passariam
Para a indiferença na consciência
Não ,incomodar

Porém ,
Os invernos continuam...
Sendo que o que menos atenua
É o de dentro de alguns de nós
                                                 Renato L.Armani